28 outubro, 2012

tenho binte óito anos

Sempre achei piada a quem diz "binte óito". Não é por gozo, é mesmo por achar catita. É o único número que se diz assim. O "binte 'nobe" não é tão catita como o "binte óito". Sei que é muito coisa do norte e talvez por ouvir tanto é que gosto tanto. 

no supermercado: "binte óito" pães, s.f.f.
no sítio onde faço as unhas: "binte óito" euros [obviamente não é o que pago para fazer as unhas]
no café: no dia "binte óito"

Agora que cheguei aos "binte óito" posso dizer desta forma: tenho binte óito anos. Ao mesmo tempo que digo, dá-se-me aqui uns tremeliques. Sabem, é que estou a crescer. Isto deixou-me a pensar...
Aqui ficam binte óito razões para que isto de crescer pareça uma coisa fixe:

1. pode-se votar e sentir que fazemos parte de uma outra parte da história
2. tem-se trabalho para se poder comprar livros todos os meses
3. pode-se conduzir e ouvir música alta no carro 
4. vê-se "Os Simpsons" e percebem-se as piadas
5. tem-se mais histórias para contar na bagagem
6. vê-se mais jogos do Benfica vistos (ai, alegria!)
7. sabe-se que o Pai Natal não existe mas podemos continuar a fazer com que exista 
8. mantêm-se as sapatilhas preferidas porque o pé não cresce mais
9. aparecem os cabelos brancos mas escolhe-se uma cor para os esconder
10. quer-se mais carimbos no passaporte (eu quero muito!)
11. descobre-se o prazer de comer legumes, peixe fresco e essas coisas
13. ... e também o prazer de uma cerveja fresca ao final da tarde
14. aprecia-se a pequenada a cada dia a ficarem mais giras
15. pode-se ficar a ver os óscares todos os anos em direto (só temos de aguentar o sono no dia seguinte)
16. descobre-se que o mundo é muito maior do que as ruas onde passamos todos os dias
17. usa-se maquilhagem catita quase todos os dias
18. aprende-se palavras novas como "fleumático" ou "loquaz"
19. começa-se a gostar de flores nos vasos
20. começa-se a achar que  a lamechice, de quando em quando, sabe bem
21. as palavras misturadas com as pessoas ganham novos sentidos
22. chega-se mais alto e assim se chega cá dentro
23. aperfeiçoa-se o assobio nos concertos
24. ... ou quando se chama alguém que está longe
25. ouvem-se sinos e saem sorrisos
26. não se esquece de como é ser pequenino ou pequenina 
27. sente-se o momento como aquele que vale a pena ser vivido
28. [...]


Crescer é fixe ou catita ou bom (liberdade para se usar as palavras que quiserem).
Apenas se resume em sermos aquilo que queremos ser.

22 outubro, 2012

voltemos às minhas bimbices

Hoje foi dia de acordar cedo, bem cedo. O despertador tocou às 7h15. Levanto-me para não ter tempo sequer de pensar "só mais cinco minutos". Para quem raramente se levanta a estas horas (já se sabe que sou uma miúda da noite) até foi simples abrir os olhos, sair da cama e abrir a janela. Qual não é o meu espanto por ver que a esta hora é noite! Lá estavam, os candeeiros ainda acessos, o céu escuro e a chuva a começar a cair. Fiquei confusa... Olho para o relógio que marcava 07h17. Deve ser mais cedo, isto não está bem (isto sou eu a pensar). Desci as escadas e vou a cozinha confirmar em todos os relógios: box da televisão, forno e micro-ondas. E eram 07h20.

B-I-M-B-A

20 outubro, 2012

MAP

Ontem à tarde a minha voz sumiu-se...
Continua sumida. Por isso só interessam as palavras que ultrapassam a morte:


"Regresso devagar ao teu 
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que 
não é nada comigo. Distraído percorro 
o caminho familiar da saudade, 
pequeninas coisas me prendem, 
uma tarde num café, um livro. Devagar 
te amo e às vezes depressa, 
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo, 
regresso devagar a tua casa, 
compro um livro, entro no 
amor como em casa." 


Acredito que pessoas assim vão para um lugar muito mais catita do que o céu. 
Só pode ser assim. 

19 outubro, 2012

Revolutionary Road


Não sou de deixar livros pela metade, mas esteve quase a acontecer com este daqui. Comecemos pelo início:

Há uns meses (acho que o ano passado!) entro na FNAC em Sta.Catarina, no Porto. Mexe aqui, mexe dali e encontro daqueles packs promocionais de dois livros. E eu não resisto a uma boa pechincha, já se sabe. Do que havia só me agradou um que tinha um livro do Murakami e o "Revolucionary Road" veio por arrasto. Ficou por ali, no meio de outros livros, até então. Depois de ter lido "O Filho de Mil Homens" estava com poucas opções (o que fez com que já fizesse uma encomenda de livros ao P.!) e peguei neste. Folheio, leio a contra capa e vejo que até um romance escrito em 1961. Não deve ser mau, pensei. Mas esta capa com cheiro de Titanic dá-me algumas náuseas ... Não sei porque raio fazem isto aos livros quando são adaptados para cinema! Mas pronto. Tentei abstrair-me e toca a ler.

Narrativa com um ritmo lento, tão lento que é fácil distrair-me com outra coisa qualquer que me passa pela cabeça. Retomo a história e no final de cada capítulo fico com a esperança que o seguinte seja melhor. Como no entretanto comprei o novo livro do António Lobo Antunes, estive mesmo quase para desistir deste, mas a história dá uma reviravolta (ou melhor, uma reviravoltinha!) e penso, ai agora é que vai ficar bom. Não fica. É um romance que se arrasta em descrições rígidas, em diálogos com pouca estrutura no meio de personagens com potencial para serem interessantes. Claro que alguém acaba por morrer (percebi isso a meio do livro), mas sem a dimensão dramática que existem noutros romances. Coisas boas... Eu gosto sempre de encontrar coisas boas. Neste caso, por ser um romance da década de 60 delicio-me com cenários que parecem não existir nos tempos modernos, como ter de telefonar da cabine telefónica. E passa-se em Nova Iorque, o que é sempre positivo.

Obs. Não vi o filme, mas fiquei com curiosidade... para ver se consegue ser melhor do que o livro
(coisa tão rara de acontecer!). 



15 outubro, 2012

nove post its colados na minha testa

orçamento de Estado - parar para pensar sobre o assunto
eleições do Benfica - não esquecer de ir votar
novo livro da Sophia - comprar!
curso de escrita criativa - confirmado
acabar o artigo - esta semana
começar o artigo - próxima semana
procurar umas botas catitas- urgente (só não sei quando)
ler o "não é meia noite quem quer" - mal posso esperar
montar as estantes no quarto - será que vão caber todos os livros que andam soltos?

14 outubro, 2012

a palavrar desde 2008

Comecei este blogue há quatro anos, quase porque a Miss Marta me obrigou a fazê-lo (culpada!).
Como a babe Leninha dizia, isto de comentar, fazer posts, partilhar, para além de nos divertir (muitas gargalhadas dei!), fazia com que estivessemos mais próximos das pessoas com quem já não estávamos todos os dias. Boa verdade. Mas é também verdade que há muita gente que não conheço que lê o que escrevo e no início fui muito ingénua em relação a isso. Os meus Pensatempos foram sendo menos pessoais e tive momentos em que pensei que devia parar de escrever. Essas pausas motivaram quase manifestações da mana maravilha, da estrela Isa e de outras pessoas. Lembro-me de um dia ter recebido um email da babe Catarina com quem raramente agora estou, só para dizer que ler o que escrevo torna as saudades mais pequeninas. Depois foi por causa do blogue que conheci a Tashinha que é uma emoção em formato de pessoa, a Mafas que nunca acabei por conhecer pessoalmente mas é como se tivesse conhecido, a Joana que afinal estava aqui bem perto e outras gentes que fazem parte de mim.

O blogue não faz parte da rotina. Obriga-me a sair dela, a pensar e a escrever. Umas vezes escolho as palavras. Noutro momento são elas que me escolhem. Por isso é que, pela primeira vez, sinto que este blogue faz parte de mim... tão parte como as palavras.

Obrigada a quem passa por aqui só para me ouvir a palavrar.

11 outubro, 2012

o nobel, o lobo e a mãe

Hoje foi atribuído o Nobel da Literatura. À semelhança do ano passado, estava a pedir a todas as estrelas, peixes e borboletas, para que fosse o António Lobo Antunes. Mesmo com Murakami na lista, queria muito que fosse um dos nossos (e um dos melhores que temos, na minha opinião). Em jeito de homenagem (também poderia dizer, em jeito de pretexto), comprei o novo livro do Lobo Antunes - "Não é meia noite quem quer".

Apetece-me parar o que estou a ler ("Revolucionary Road"), o que até nem seria difícil, mas sou metódica nas minhas leituras. Já passei as cem páginas, que ainda não me convenceram... vamos ver o que acontece nas próximas cento e cinquenta.

Em relação ao "O Filho de Mil Homens"... hoje, que tanto se fala em livros, escritores e escritoras, parece-me um dia bom para escrever sobre o último do Valter Hugo Mãe.


Nestas páginas temos o Crisóstomo, o Camilo, a Isaura, o Antonino, a Matilde, a Mininha que é como quem diz Emília. São uma família inventada. Por ser inventada é que o livro se torna tão completo de afetos, de ligações, de sentimentos. É um livro que entra cá dentro e fica... Fica a dobrar.

E ainda bem que o Valter Hugo Mãe o escreveu, ainda bem! Estava capaz de o ler todos os dias até o saber de cor.
 

09 outubro, 2012

Toda a gente alguma vez já disse: "hoje não deveria ter saído de casa". Pois eu acho que deveríamos de ser avisados desses dias e marcar na agenda para não esquecer. 

Não é que hoje esteja num desses dias, mas há coisas que me afligem e me fazem querer não sair de casa, que é como quem diz, não querer ver o mundo. São tantas que lhes perco o rumo dentro do meu raciocínio e depois não consigo estruturar o pensamento - coisa que posso gabar-me de conseguir fazê-lo bem, ou pelo menos conseguia. Talvez precise de ir ao IKEA comprar umas caixas daquelas coloridas e catitas e começar a arrumar as coisas, uma de cada vez, sem lhe perder o rumo. E depois logo se vê se precisam de uma caixa maior ou mais pequena; se precisam de ir para o lixo ou para a máquina de lavar.

E hoje que chove sem parar... e ainda por cima ponho-me a ouvir Jeff Buckley e Bon Iver. Está mal. Não combina. Acho que secretamente vou me por a dançar isto e assim e aqui (3:18):


 

05 outubro, 2012

da república até hoje

Há muito muito tempo atrás, um conjunto de pessoas descontentes, teve a força e a coragem para deitar abaixo uma monarquia e mudar um país inteiro. Acreditavam que Portugal poderia ser mais e com razão. Hoje comemora-se a Implantação da República e pela última vez será um feriado nacional.

Fiquei a pensar...

Depois da República, depois da Ditadura e depois de todos outros momentos na nossa história chegamos a um país com auto-estradas, com caminhos-de-ferro, com estradas antigas conservadas, com mar a inundar parte do "rectângulo", com escolas, com universidades, com fábricas, com hóteis, com restaurantes, com museus, com quintas onde ainda se vindima, com escritórios em prédios quase altos, com castanheiros, com oliveiras e outras árvores que não sei o nome, com lugares em que somos nós a pôr a gasolina no carro, com cafés gourmet, salas de chá ou até mesmo tascas, com internet em cada canto e em movimento, com vinhos e muitos premiados, com cidades culturais, cidades com metro, cidades com neve, cidades desertas. E todas estas cidades livres. Sim, somos um país livre.

Mas, e as pessoas deste país? Têm força e coragem?
Ouvir falar, vale a pena o António Nóvoa e atrevo-me a dizer "só".
Fazer, há que reconhecer que, e ousando utilizar uma expressão bem popular (eufemismo para calão), "é preciso ter tomates" para fazer as malas e ir, ir para fora daqui. Contudo, reconheço que quem fica tem ainda mais coragem. Apesar de ver as pessoas cansadas, algumas angustiadas, muitas não deixam de dizer "Bom dia". Fala-se da austeridade, do Gaspar, do Passos e dos outros compinchas e começam os palavrões em formato de desabafo. Até a mim me saem, numa expressão de esperança morta. As pessoas aguentam-se estoicamente, fazendo contas,  preparando, suando. As pessoas reclamam, fazem greve, manifestam-se. Mas as pessoas até riem quando hoje viram a bandeira ao contrário.

Haja bom humor, paciência, coragem e liberdade.

02 outubro, 2012

ser Outono

Hoje já faz um bocadinho de frio. Já lembra o Outono à séria. Só faltam as folhas no chão para eu calcar, ouvir estalar até quase esfarelar. Está bom para as mantinhas, portanto. Estava capaz de tirar as botas (sim, já ando de botas porque sou uma ser humana que sofre de frio mais do que a maioria), encolher-me num cantinho, como que escondida, e começar a ler o décimo capítulo d' "O Filho de Mil Homens" do Valter Hugo Mãe.

É tudo o que me apetece. Aliás, é o que se deveria fazer no Outono: ler até à exaustão num cantinho qualquer, sair à rua só para esfarelar as folhas e até mergulhar nelas quando estão organizadas em forma de núvens, comer marmelada com marmelada, olhar e cheirar os dióspiros (mas sem comer, não gosto) porque me faz lembrar a minha avó. 

É tudo o que me apetece: ser Outono.