29 maio, 2013

eu tenho dois amores

Venho ao Brasil de tempos a tempos e nunca fico morena. Entre São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Caxias do Sul, Brasília e outras cidades, já lhes conheço os jeitos, as diferenças, as pessoas. Desfaço o calor com litradas de sumo de abacaxi com hortelã sem açucar (não gostar de açucar deixa as pessoas surpreendidas por cá), ou com litradas de cerveja (não gostar de vinho deixa as pessoas surpreendidas por cá). Às vezes ando de saltos, porque tem de ser; outras vezes de sapatilhas, porque gosto; e agora com melissas porque deixei de adiar e comprei dois pares. Descobrem-se músicas novas, um samba, uma bossa nova ou um chorinho. Revisito outras músicas porque já fazem parte de mim. Adapto-me logo que chego ao fuso mas sofro a dobrar no regresso. Cá como feijão e é mesmo só cá porque não há igual. Salivo com tapioca e até com farofa. Fico atenta ao cantar do Bem-Te-Vi. Sinto falta de café expresso, mas ainda bem que existe Pilão. Desespero com o atendimento mas depois de uma semana já não ligo. O calor consome-me mas o ar condicionado torna os espaços quase Inverno, por isso ando sempre com um casaco. Quando chego ao aeroporto gosto de comer logo um pão de queijo. E repito nos dias seguintes porque não dá para resistir.

Não dá para resistir às pessoas que já são amigos. Tão amigos. Partilham-se projetos, trocam-se receitas de culinária, gargalha-se sem fim, dão-se presentes, conhecem-se novos lugares, contam-se histórias passadas no sofá de casa. O Vinicius fala das saudades do Brasil em Portugal e sinto-as por tudo isto que não dá para resistir. Mas depois também há as saudades de Portugal no Brasil e essas agora também as sinto, porque não dá para resistir ao bacalhau, à calçada, ao silêncio das cidades, às músicas do Zambujo, às minhas coisas e à minha gente.

É caso para dizer: eu tenho dois amores.

17 maio, 2013

Desde terça-feira em casa. Uma virose respiratória apoderou-se de mim, do dia para a noite, literalmente. Hoje acordei, pus um pezinho na varanda para respirar (parcialmente, considerando o estado das minhas narinas) e posso jurar que senti uns tremeliques de emoção. Estou a precisar de ar e da minha rotina.

Tem sido um mês do catano... e ainda estamos a meio.

12 maio, 2013

música da semana



Porque a Carla está qualificada no doutoramento (no Brasil é a etapa prévia à defesa) e qualquer pessoa que faça um doutoramento compreende o que é isto do "ter de ser".

Parabéns à Carla!

11 maio, 2013

Que semana, minh' gente!

Já não chega a pressão de estar no último ano e ter de acabar a tese (até se me dá calafrios!), como depois se tem de gerir os entretantos. 
Dias e dias a aguardar feedback. Continuo as miles de coisas e outras tantas. Olho para o planeamento e vejo que não está mal, mas sinto que podia estar melhor. Chega o feedback no dia do deadline - que já me estava a dar pesadelos. Uma reunião a definir estratégias, com apontamentos escritos à velocidade da luz e agora olho para aquela folha com a letra mais feia do mundo, mas tão cheia de significado. Logo a seguir meto-me na biblioteca para cumprir com o deadline; mas veio a notícia que me faz estremecer e ligar à mãe, à irmã e esperar por mais notícias. Ao mesmo tempo a concentração para cumprir com o deadline. Tenho momentos em que paro e penso: Estou mesmo cansada, porra! No minuto a seguir já estou a teclar desenfreadamente. Submeto o artigo, dentro do deadline. Hell yeah! Vou para o próximo artigo que tenho de submeter porque já devia ter sido submetido. Mais uns minutos em que teclo desenfreadamente. Pum! Artigo submetido. Paro uns segundos e enterro a testa em cima da mesa. Sinto-me mesmo cansada, penso outra vez. 
Dia seguinte mais meio mundo de coisas. Artigos para rever. Focus group com alunos. Estado da tese impresso e analisado. Sinto-me torcida. Há coisas nas costas fora do sítio. A osteopata fez-me gritar. Ontem não me mexia. Hoje não me mexo. 

Que semana, minh' gente! 

Obs. Houve partes boas na semana, mas tinha de deitar estas cá para fora. 

01 maio, 2013

um livro com emoções

Não vi o filme. E lamento ter lido o livro só agora.
Acabei há uns dias e parece que ainda não consigo escrever sobre ele, porque é como escrever sobre uma vida que está ali descrita, em cem capítulos. Falar desta história é como falar de emoções e isso nem sempre é fácil, nem é para qualquer pessoa.

É uma história com família, com religião (ou várias - e é das partes de que mais gosto), com números, com natureza, com sabores (de todas as vezes que era mencionado senti o cheiro dos cominhos). O Pi não gostava do seu nome e conheço essa sensação porque eu própria escondo o meu segundo nome (I.e sinto-me sempre desconfortável quando me obrigam a escrever o nome completo).

Mas como dizia é uma história de emoções, com laços construídos. Em que até um apito ganha sentido. Desespero ganha sentido. A tristeza ganha sentido. A conquista ganha sentido. A amizade ganha sentido. A sobrevivência ganha sentido.

Bem digo que estragam tudo quando põem a capa dos livros com imagens dos filmes. E se antes não tinha lido o livro, não ia ser um grande plano do Richard Parker que me ia convencer. Mas eu tenho o privilégio de ter esta edição. E por isso é um livro ainda com mais emoções.