30 dezembro, 2012

entre um ano e o outro

O pior que pode acontecer num ano é perder alguém. Este ano perdi um alguém. De forma inesperada, apesar de o prever racionalmente, o meu primo, com pouco mais de 30 anos morre durante a noite. Nesse dia estava no Brasil. Tudo o que senti foi à distância, em lágrimas de desespero, outras controladas, outras em silêncio. Talvez, por isso, ainda tenha (muitos) momentos em que parece que não pode ter acontecido, que não pode ser possível que o A. não esteja aqui. Não há um dia que não pense nele. Não há um dia em que não pense na forma como ele viveu - nunca foi livre para escolher o que gostava de fazer. Sempre com restrições e obrigações que o tornavam naquilo que ele não queria ser. Não há um dia em que não pense na forma como ele amava a minha avó, como adorava brincar comigo e com a mana maravilha no meio da terra naquele Antigamente que com o tempo vai sendo mais delicioso.

E com isto penso que há coisas que se tornam tão pequeninas, apesar de parecerem tão grandes nos nossos dias: as discussões, as indecisões, as complicações (oh, vontade de se complicar tudo!), as tristezas, os rancores, as mágoas, as ofensas... para quê? Fazemos questão de estarmos focados nesta parte da vida e tornamos invisível o que é realmente importante: sermos aquilo que queremos ser.

Para o próximo ano não quero perder mais ninguém. E só quero ser aquilo que quero ser.

23 dezembro, 2012

"C Que Sabe"

Escrever aqui foi evoluindo ao longo do tempo. Gostava de palavrar mais, partilhar mais, disparatar mais. Umas vezes não tenho tempo, outras não tenho energia e outras não me apetece. Acontece. Já tive momentos em que tive para fechar o tasco de vez; já tive outros momentos que fui surpreendida com palavras desse lado, por gostarem de me ler; e já ando aqui há tempo suficiente para isto me fazer falta, mesmo quando não tenho tempo, energia ou falta de vontade.

Uma das coisas que sempre quis foi ter um header catita, que fosse feito por mim e que contasse, ao mesmo tempo, uma história (já lá vamos). E txanaaa! a isto me dediquei hoje, uns minutinhos enquanto ouço Rodrigo Leão com a manta lilás vinda da Austrália enrolada nas pernas e antes de pôr em dia os episódios da segunda temporada do Homeland (uh uh). Ficou um header grande porque sou meia impaciente e não consigo ajustar melhor a fotografia. Mas... (aqui vem argumento bom para vos convencer que assim até fica melhor) ... mas com este tamanho conseguem ver todos os detalhes, podem tentar reconhecer as caras, os rostos, as pessoas e ouvirem o que elas têm para vos dizer.

Agora vamos à parte da história.
Fui eu que tirei esta fotografia (com a Bebé, claro!) em Agosto deste ano, num restaurante em São Paulo (Sampa como gosto de chamar). Sampa tem dos melhores restaurantes italianos (cantinas como eles dizem) que podem existir e no bairro do Bixiga é porta sim, porta sim. Esta fotografia vem do C Que Sabe que, num tom coloquial e com sotaque de novela da Globo, quer dizer você é que sabe. Canta-se, toca-se, fala-se alto, come-se uma pasta maravilhosa, um picante espetacular, paga-se bem, tem tralha nas paredes, no tecto, aqui e ali e o dono é o chef italiano mais conceituado do Brasil, pesa mais de 100kg, é motoqueiro, adora comer, beber champanhe português e recebe as pessoas como quem está em casa. Na verdade, aquela é a sua casa. Conta ele emocionado que é uma cantina de cinco gerações; ele acabou por fazer dos melhores cursos de cozinha em Itália, conhecer a especificidade de cada província e inovar ainda mais os sabores daquela ementa.
Fui duas vezes ao C Que Sabe enquanto estive em Sampa este ano e foi na primeira vez que tirei esta fotografia. Há muitas outras espalhadas por toda a cantina. Esta é a minha preferida porque tem a Elis e quem tem a Elis é como ter toda a fascinação numa imagem.

Para, deste lado do Atlântico, conhecer o  C Que Sabe - aqui.

19 dezembro, 2012

mais bimbices

Certamente que sou uma ser humana que sofre de frio. Ando de gorro, camisolas quentes, casaco quentinho (finalmente este ano tenho um que não me faz parecer um chouriço, adoro adoro adoro @ Bimba y Lola), collants quentes e mais um par de meias, para ficar mesmo assim no ponto. Pareço que moro no Pólo Norte, eu sei. Para mim é como se fosse. Sofro de frio, senhores!

Para dormir é outro drama. Crio um verdadeiro mundo polar. Então, estava ontem a dizer à minha mãe que precisava de mais um cobertor (já disse que sofro de frio?). Ela riu-se e confessou-me que uma das minhas prendas de Natal ia ser um cobertor térmico. Oh, alegria. "Posso abrir já, posso? Posso?" Não, não pude.

Vou ter um cobertor térmico no mundo polar. Bimbices ... mas quero lá saber; vou ficar tão quentinha que tenho para mim que só saio de lá na Primavera. 

16 dezembro, 2012

"Lilás e Aliás"


"Quando eu era pequena, a minha mãe dizia que havia palavras que me caíam no goto. Nunca deixei de ser um bocadinho infantil e ainda agora, com 48 anos, me caiu no goto a sequência «pirilau, balandrau, carapau, colorau, baú, besouro, gafanhoto, macambúzia, sutiã». Mas, quando eu era pequena, a palavra que realmente me caiu no goto foi a palavra «aliás». Era uma palavra que a minha mãe usava.
A minha cor preferida, no tempo em que me caiu no goto a palavra «aliás», era o lilás. Associava a cor lilás à palavra «aliás». Ainda hoje, «aliás» é para mim uma palavra lilás.
Pedi à minha mãe que me comprasse, numa loja de brinquedos da Baixa em que havia latinhas de tinta, uma latinha de tinta lilás.
Em casa, quis fazer uma experiência. Eu acreditava que, se entornasse o conteúdo da latinha sobre a mesa das bonecas, a mesa ficava instantaneamente lilás, como nos filmes de desenhos animados, como por magia.
Fiz a experiência. Mas a tinta caiu do tampo da mesa das bonecas para o chão, onde fez uma poça. A mesa das bonecas não ficou pintada de lilás. Ficou com uma pocinha de tinta lilás, a escorrer fios de tinta lilás.
Eu não fiquei desiludida. Foi a minha primeira experiência de Física, parece-me. Ao fim e ao cabo, também era deslumbrante.
O chão ficou manchado de lilás. Passaram-se mais de 40 anos sobre esta experiência. O chão, de madeira, continua manchado de lilás, no mesmo sítio. O lilás evoluiu ara azul."

Adília Lopes


Obs. Eu gostava de saber dar títulos assim às minhas histórias.
E mais uma coisa: gosto de lilás e de roxo, mas prefiro violeta.  

13 dezembro, 2012

Demónios e Anjos

Não, não estou a falar do livro (até porque esse é "Anjos e Demónios") do Dan Brown - por acaso o único que li do senhor, que até gostei, mas depois veio o filme e estragou tudo.

Adiante...

Há pouco tempo disseram-me que era otimista e irrealista. No contexto em que foi dito, a palavra "irrealista" demorou a ser engolida. Fiquei a pensar se as histórias de Gotham Central, do Wolverine, da Guerra das Estrelas, do Hobbit e do Senhor dos Anéis me andam a atrapalhar noção de tempo e espaço, a trocar os sentidos; mas não, sei bem onde os tenho. Sei bem quem sou. E irrealista não encaixa em mim. Racional, encaixa na perfeição. E fui usando a razão, com a minha capacidade analítica que chega a impressionar (às vezes até a mim própria - deve ser coisa de investigadora), que concluo que tenho um demónio à perna. Pensei que só seria possivel na BD e nos livros catitas, mas afinal eles andam aí e eu tenho um só para mim (uh uh). Demónio do grego significa "génio mau" e é mesmo isso que o meu demónio é, um génio mau que não sabe lidar com pessoas. Dá-me cabo dos nervos pessoas que escondem afetos, que fazem questão de não sentir, que acham que reconhecer ou elogiar pode ser um pecado que os leva ao inferno. Dá-me cabo dos nervos a arrogância das palavras escolhidas, a prepotência dos gestos e o tom de voz concreto. Dá-me cabo dos nervos a falta de sensibilidade em perguntar, querer compreender, preocupar-se. O meu demónio é assim e dá-me cabo dos nervos. Até que chega um anjo (também existem e esta é a parte boa da história) na altura certa. Preocupada. Compreensiva. Assertiva. Anjo do grego significa "mensageiro" e é mesmo assim o meu anjo de cabelos loiros, que agrega multidões e conhece todas as empregadas da Parfois do Porto.Numa semana deixou-me mensagens de coragem, mensagens de ansiedade, mensagens divertidas.

Posso ter um demónio mas ganhei um anjo.

09 dezembro, 2012

Para o doutoramento ando a entrevistar engenheiros e engenheiras, que me falem do que fazem, como foi o percurso académico, se o que aprenderam foi útil e por aí... (isto sou eu a simplificar, porque não é tão linear assim). Isto tem absorvido todo o meu tempo e energia nos últimos tempos; já cheguei a fazer três num dia. E depois a transcrição é coisa de demorar horas. Portanto, não tenho lido, a não ser o Expresso ao sábado ou ao domingo de manhã (exemplo de hoje), não tenho ouvido muita música, só no final das transcrições para não ficar com as vozes dentro de mim e não tenho visto programas de culinária (já disse que sou bimba nestas coisas, nada a fazer). Estou nisto há um mês e dois dias, tenho treze entrevistas, um total 60406 palavras; faltam três. E digo: adoro. Adoro falar com as pessoas, acrescentar perguntas, ouvir histórias. E quando dou por ela "tenho dados para fazer ouro".

A seguir seguem-se as conversas com os professores e com os alunos.
Vamos ver.