"Quando eu era pequena, a minha
mãe dizia que havia palavras que me caíam no goto. Nunca deixei de ser um
bocadinho infantil e ainda agora, com 48 anos, me caiu no goto a sequência
«pirilau, balandrau, carapau, colorau, baú, besouro, gafanhoto, macambúzia, sutiã».
Mas, quando eu era pequena, a palavra que realmente me caiu no goto foi a
palavra «aliás». Era uma palavra que a minha mãe usava.
A minha cor preferida, no tempo
em que me caiu no goto a palavra «aliás», era o lilás. Associava a cor lilás à
palavra «aliás». Ainda hoje, «aliás» é para mim uma palavra lilás.
Pedi à minha mãe que me
comprasse, numa loja de brinquedos da Baixa em que havia latinhas de tinta, uma
latinha de tinta lilás.
Em casa, quis fazer uma experiência.
Eu acreditava que, se entornasse o conteúdo da latinha sobre a mesa das
bonecas, a mesa ficava instantaneamente lilás, como nos filmes de desenhos
animados, como por magia.
Fiz a experiência. Mas a tinta
caiu do tampo da mesa das bonecas para o chão, onde fez uma poça. A mesa das
bonecas não ficou pintada de lilás. Ficou com uma pocinha de tinta lilás, a
escorrer fios de tinta lilás.
Eu não fiquei desiludida. Foi a
minha primeira experiência de Física, parece-me. Ao fim e ao cabo, também era deslumbrante.
O chão ficou manchado de lilás.
Passaram-se mais de 40 anos sobre esta experiência. O chão, de madeira,
continua manchado de lilás, no mesmo sítio. O lilás evoluiu ara azul."
Adília Lopes
Obs. Eu gostava de saber dar títulos assim às minhas histórias.
E mais uma coisa: gosto de lilás e de roxo, mas prefiro violeta.
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