29 setembro, 2012

O Grande Gatsby

Era daqueles livros que sabia que tinha de ler, mas acabava por nunca acontecer. Isto durante anos. Até que no início de Setembro aconteceu. A andar numa rua no centro de Guimarães esbarro numa livraria escondida, sem nome (pelo menos eu não vi em lado nenhum) e sem ordem, como se os livros se mexessem a toda a hora sem nos apercebermos. Foi de lá que então veio "O Grande Gatsby", da Presença.

Para quem já leu, não é preciso dizer o quão bom este livro é. Não dá para resistir e gosta-se tanto que quando se lê a última página ficamos a querer mais. Para quem não leu, apenas digo que o leiam quando vos vier parar às mãos, sem se aperceberem.

Como disse, estive anos a querer lê-lo mas sem o ler, até que aconteceu. Acredito que há livros que temos de ler na altura certa, porque traz mais do que o próprio livro. Traz momentos que o tornam imortal. No meu caso, a altura certa foi quando passou a existir uma livraria desconhecida e caótica (uma maravilhação!) e esse livro me veio surpreendentemente parar às mãos. E foi assim que "O Grande Gatsby" se tornou imortal dentro de mim. E é tudo o que este livro merece.

26 setembro, 2012

impaciências

Sou uma miúda impaciente. Tanto, que já consigo identificar em mim os sintomas. E aí, começo a engolir e vai tudo para dentro. Não admira que depois grite no osteopata cada vez que me mexe nas costas e no pescoço. E depois também há todo um fenómeno na cabeça. Diz o meu neurologista que os meus vasos estão a ficar fraquitos pela tensão que faço na parte superior. Por isso, sou uma miúda impaciente com contracturas eternas e cefaleias vasculares.

Tudo isto me fez reflectir sobre a minha impaciência. Acho que está relacionado com o meu pragmatismo. Por isso, não tenho paciência para:

- coisas repetidas (excepção: episódios do Seinfeld)
- músicas da Adele (e suas semelhantes)
- aquela cor trigre em tudo o que é roupa (que epidemia!)
- snobismo (em palavras, gestos e acções)
- o orgulho de quem não sabe pedir desculpa quando deve pedir (aqui a impaciência mistura-se com nervosite)
- o meu cabelo quando atinge estado de Chewbacca (já para não falar das brancas que se multiplicam como cogumelos)
- palavras mal escritas e verbos mal conjugados (há quem ache piada, eu não)
- aqueles que deixam o carro mal estacionado na minha rua e me obrigam a andar por cima do passeio (meus grandes anormais, para a próxima juro que chamo a polícia!)
- estar parada, assim, sem fazer nenhum (sim, sou impaciente comigo mesma)
- o Benfica não ter um médio-centro (como não ficar impaciente?)


E agora não tenho paciência para escrever mais impaciências.

18 setembro, 2012

Portugal não me (nos) trata bem

No sábado, enquanto meio país estava na rua, eu estava em Cambridge enfiada numa sala a trabalhar. Talvez por isso, nestes últimos dias, tenho absorvido tudo o que é notícias, imagens, crónicas, opiniões, números e coisa e tal sobre a Manifestação (até a moça que abraçou o polícia). E confesso que fico sempre emocionada. Deveríamos sair à rua todos os fins-de-semana, mostrar a vontade esfrangalhada, o peso da vida, a esperança morta.

Há muito tempo atrás li um artigo de opinião (não me lembro onde, nem de quem) em que o autor contava que, num jantar com um amigo que agora vivia na Nova Zelândia, este lhe perguntava: "e o teu país trata-te bem?". Desde então que me questiono sobre isso. Gosto do meu país. Gosto das pessoas. Gosto da comida. Gosto dos sotaques. Gosto de andar a pé pelas ruas. Mas é um país que não me trata bem. Sobretudo quando quem me põe o dinheiro na conta ao final do mês é o Estado. É muito ingrato fazer investigação neste país. Primeiro é conseguir a bolsa - sete cães a um osso. Depois é conseguir que a FCT nos finalize o contrato - uma eternidade. E depois temos de fazer muito, muito mesmo, para conseguirmos ser os melhores. E fazer parte dos melhores, em investigação, infelizmente, significa produzir. Por outras palavras, quem escrever mais artigos em revistas-com-mais-pinta-internacional, ganha. Já para não falar na angústia de pensar "e a seguir vou fazer o quê?". Suspiro. Muitas coisas poderiam ser faladas a este respeito, que é o meu e de muitos outros bolseiros de investigação, cuja vontade é arrumar os livros, a roupa, a cabeça e o computador e zarpar daqui para fora!

Mas também há as inquietações das outras pessoas, que este país também não trata bem. Ontem estava no supermercado e um senhor, com uma bengala gasta pelo tempo e com uma camisola que parece ser a única que existe, pedia no talho aqueles restos de carne que não se pagam. Quase envergonhado, justifica-se para comigo dizendo: "Sabe menina, isto já dá uma bela sopa". E eu fiquei com o coração feito em pó. E depois saber que um pai não pode mandar a filha (que é só a melhor aluna da escola) para a Universidade porque não tem como fazê-lo. É ouvir perguntas dos estrangeiros (no Brasil, em Londres), "e que tal vai Portugal?", e ter de responder que batemos no fundo, embora o diga de forma mais poética porque na verdade sinto é vergonha. Sinto vergonha de fazer parte de um país que não trata bem as suas pessoas, que as varre para outros países porque batemos no fundo (e agora não preciso de o dizer de forma mais poética). 

Custa dizer isto, com ou sem metáforas, de um Portugal que eu gosto...
Mas que não me (nos) trata bem. 

03 setembro, 2012

Para mim o ano não começa em janeiro, mas em setembro.

Gosto de fazer isso que é parar para pensar na vida, de planear trabalho para o ano (planos ambiciosos!) e de fazer promessas, como voltar ao ginásio (esta tem de ser cumprida!). Também digo para mim mesma que vou escrever mais, ler mais, fotografar mais. E ainda aproveitar mais os últimos meses da Capital Europeia da Cultura, assim, como não houvesse amanhã. Depois comer menos, ser menos impaciente (e noutras coisas, mas esta é prioritária) e entrar menos vezes na Fnac ou trazer menos sacos com coisas da Fnac.

Ah, e dormir melhor, coisa que gostava mesmo muito que acontecesse.