Venho ao Brasil de tempos a tempos e nunca fico morena. Entre São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Caxias do Sul, Brasília e outras cidades, já lhes conheço os jeitos, as diferenças, as pessoas. Desfaço o calor com litradas de sumo de abacaxi com hortelã sem açucar (não gostar de açucar deixa as pessoas surpreendidas por cá), ou com litradas de cerveja (não gostar de vinho deixa as pessoas surpreendidas por cá). Às vezes ando de saltos, porque tem de ser; outras vezes de sapatilhas, porque gosto; e agora com melissas porque deixei de adiar e comprei dois pares. Descobrem-se músicas novas, um samba, uma bossa nova ou um chorinho. Revisito outras músicas porque já fazem parte de mim. Adapto-me logo que chego ao fuso mas sofro a dobrar no regresso. Cá como feijão e é mesmo só cá porque não há igual. Salivo com tapioca e até com farofa. Fico atenta ao cantar do Bem-Te-Vi. Sinto falta de café expresso, mas ainda bem que existe Pilão. Desespero com o atendimento mas depois de uma semana já não ligo. O calor consome-me mas o ar condicionado torna os espaços quase Inverno, por isso ando sempre com um casaco. Quando chego ao aeroporto gosto de comer logo um pão de queijo. E repito nos dias seguintes porque não dá para resistir.
Não dá para resistir às pessoas que já são amigos. Tão amigos. Partilham-se projetos, trocam-se receitas de culinária, gargalha-se sem fim, dão-se presentes, conhecem-se novos lugares, contam-se histórias passadas no sofá de casa. O Vinicius fala das saudades do Brasil em Portugal e sinto-as por tudo isto que não dá para resistir. Mas depois também há as saudades de Portugal no Brasil e essas agora também as sinto, porque não dá para resistir ao bacalhau, à calçada, ao silêncio das cidades, às músicas do Zambujo, às minhas coisas e à minha gente.
É caso para dizer: eu tenho dois amores.
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