02 maio, 2012

«chuvilho»

Nesse dia, meu pai apareceu em casa todo molhado. Estaria chovendo? Não, que o nosso telhado de zinco nos teria avisado. A chuva, mesmo miudinha, soaria como agulhinhas esburacando o silêncio.

- Caiu no rio, marido? 
- Não, molhei-me foi por causa dessa chuva. 
- Chuva? 

Espreitámos na janela: era uma chuvinha suspensa, flutuando entre céu e terra. Leve, pasmada, aérea. Meus pais chamaram àquilo um «chuvilho». E riram-se, divertidos com a palavra. Até que o braço do avô se ergueu:

 - Não riam alto, que a chuva está é dormindo... 




Mia Couto
In "A Chuva Pasmada"

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