"O Ano Sabático" foi o segundo livro que li do João Tordo. Desde que saiu que me andava na mira, mas é raro eu comprar um livro só porque sim; é mais porque tem de ser. Com este livro, que acabei ontem de ler, foi assim: num dos dias das mini-mini-mini férias de são joão inundei-me de revistas num bar de praia e uma delas, já antiga, trazia uma entrevista extensa do João Tordo onde falava do livro e gostei dos pormenores pessoais que a história tinha. Na semana seguinte fui à FNAC (já não me lembro fazer o quê) e comprei-o. Comecei-o a ler logo a seguir ao "Leite Derramado". Foi num instante e foi um belo começo das leituras nas noites quentes de Julho.
O livro é bom, muito bom. Talvez por gostar também da escrita do João Tordo e nota-se que tem um registo próprio.O livro está dividido em duas partes e a primeira parte, para mim, está completamente genial. Muitas personagens, mas não nos perdemos na história. E muito do autor está ali: também o João Tordo toca contrabaixo e tem irmãos gémeos, uma irmã e outro irmão que não sobrevivera ao parto - era esta a informação que estava na entrevista e que logo me ligou à história. Depois há muito de ficção. Gosto dos pormenores como o Mateus chamar o contrabaixo de barco baixo; gosto da música ter o nome da empregada; gosto da ideia do ano sabático, porque de algum modo foi o que também fiz antes de entrar para o doutoramento (isto sou eu numa identificação pessoal com o livro). No final da primeira parte há um twist (que obviamente não posso contar) que quase leva o leitor à loucura. Nessa noite tive de continuar a ler. Não estava a perceber o que estava a acontecer. De tal como que rabisquei um ponto de interrogação no final dessa parte. Foi quase difícil de digerir e ainda o é, agora que penso na história. Um autor que consegue isto com o leitor é porque tem de ser bom.
Levada pela curiosidade comecei logo a segunda parte; trouxe uma cadência diferente, relatada por uma pessoa distante da história, mas próxima de uma das personagens. Mas penso que isto também faz com que o leitor também se distancie. Então, sente-se quase que uma quebra; depois daquela intensidade obsessiva da primeira parte, aqui é quase um despreendedimento, como quem prepara uma despedida. Talvez tenha sido essa a intenção do João Tordo.
É um livro sobre obsessão e eu li de forma obsessiva.
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