O Chico canta. Mais! O Chico escreve. E ainda mais! O Chico é.
Ofereceram-me o "Leite Derramado" no Verão passado, quando estava no Brasil - precisamente esta edição da Companhia das Letras.
Li em menos de uma semana - uma semana apanhada com dois dias de praia na Comporta onde é fácil, muito fácil ler com os pés enfiados na areia - esta história que atravessa gerações.
Para quem leu "Cem anos de solidão" e outros semelhantes, cheios de personagens, de sobrenomes e com imensas e imensas páginas, vai gostar da história do Chico... não, desculpem, da história do Eulálio. O "Leite Derramado" não é mais nem menos do que as suas memórias em mais de cem anos de vida; uma vida em Copacabana, na baía de Guanabara, e noutros lugares, com a sua mãe, com a sua mulher, com a sua filha, com o seu neto, com o seu bisneto, com o seu tetraneto. E com as suas fotos, os seus cheiros, as suas exigências, as atrapalhações, as suas contrariedades, as suas confusões, as suas confissões... naturais de quem está numa cama de hospital a contar histórias que ninguém quer ouvir (só mesmo quem as lê, como se fosse um segredo).
O Chico em poucas páginas conta uma história (ou muitas - depende de quem estamos a falar); muitos escritores a contariam de forma lógica, perfeita, detalhada. O Chico não. O Chico escreve como canta, com falhas e fora de ritmo: complexamente simples e compreensivelmente emocional. Assim é o "Leite Derramado".
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