08 agosto, 2010

A Natália

Não me lembro daquele momento em que a vi pela primeira vez. Mas lembro-me do cabelo aos caracóis. Lembro-me dos mocassins castanhos. Lembro que comia um pão de água com manteiga a meio da manhã. Lembro-me que lia o Público todos os dias. Lembro-me que só apertava o segundo e o terceiro botão da bata. Lembro-me de ter começado a ver os Simpsons por ela falar neles (ainda nem percebia muito bem o que é que aqueles bonecos amarelos diziam!). Lembro-me que era alérgica ao giz e que, por isso, usava um suporte azul para escrever no quadro.

Foi a Natália que me mostrou o mundo das letras e desde logo fiquei fascinada. Quando comecei a perceber o jogo das letras e das sílabas, das vogais com as consoantes, da pontuação e das figuras de estilo, nunca mais parei de escrever. Naquele tempo já escrevia contos e histórias e composições. E tenho tudo guardado desde então - o que dá para constatar que já nesse tempo era um desastre a dar títulos (um dia escrevo mais especificamente sobre este meu gap).

A Natália foi a minha professora primária. Durante esses quatro anos fui guardando imagens dela em mim. Hoje, passados 16 anos, continuo com essas imagens em mim, como se fossem uma história. Quando escrevo ela tem de estar presente porque foi ela que me apresentou este mundo.

Hoje falo sobre a Natália porque a encontrei no facebook* um dia destes e trocámos palavras, as mesmas que ela me mostrou um dia, no tempo da Dianinha pequenina. E parece que a vi novamente a ler o Público no intervalo da manhã, enquanto comia o seu pão de água com manteiga, apenas com o segundo e o terceiro botão da bata apertados.

* Tenho de admitir que considero esta a maravilha das redes sociais - estarmos mais perto de quem está longe.

2 comentários:

Varandas disse...

Belíssimo texto, miúda! Até no título acertaste desta vez ;)

Dianinha disse...

Obrigada John :D Sabes que quando sai do coração dá coisas assim!
Quanto ao título, ando a tirar um doutoramento nisso... Fico contente que esteja a ter resultados :P