16 agosto, 2013

pelo interior de Sampa

Quem precisa de uma cidade grande? Há umas semanas atrás diria “eu, eu, eu!”. Mas agora estou em Lorena. Onde? Sim, Lorena. É uma cidade que nem aparece nas notícias e é mais ou menos assim:

Em Lorena não há prédios altos, nem cinemas, nem centros comerciais e as lojas fecham antes de anoitecer (aqui a noite vem cedo). Em Lorena há muitas bicicletas, são muitas e algumas simplesmente aparecem em contramão. Em Lorena há uma linha de comboio que transporta mercadorias que me acorda todos os dias pela madrugada. Quando tento adormecer vêm os pássaros pela manhã que regateiam e discutem como gente grande. Em Lorena vivo no apartamento 11 e a Doutora Ana, que é dentista, é minha vizinha e querida que só ela. Em Lorena os catraios brincam na rua, de chinelos e calções do tamanho acima; brincam com papagaios de papel e eu gosto de ficar a olhar. Em Lorena o coração da cidade é uma praça e numa das esquinas dessa praça tem uma padaria com um pão que me consola de tão bom que é e também tem bolo de milho. Em Lorena o horizonte é marcado pela serra, tal como aparece nos meus desenhos – aqueles que fazia, cheia de orgulho, quando tinha uns 6 anos. Mas o que Lorena tem são as pessoas; umas feitas de outros lugares, outras feitas aqui mesmo e de onde nunca saíram. Andam na rua e soltam sorrisos, dizem “Oi!” sem me conhecerem; e as que se conhecem acabam por se tornar próximas, amigas, porque começam-se a partilhar, de forma natural, histórias e abraços. E há mais: em Lorena há sushi e episódios de Game of Thrones.


Quem precisa de uma cidade grande, afinal?   



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