Perguntam-me, muitas vezes: “Mas afinal o que é que fazes?”. Respondo com um estoicismo previsível: “Faço investigação”. Algumas pessoas ficam a olhar para mim como quem não percebe a minha resposta. Outras fingem que percebem. E outras percebem mesmo.
Costumo dizer que fazer investigação não é um trabalho das 09h às 17h. Exige tempo, muito tempo. Tempo que às vezes não temos, tempo que às vezes temos de inventar. Deixamos de fazer outras coisas de que gostamos, deixamos de estar com quem precisamos.
Quando estamos a fazer investigação, sobretudo um doutoramento, ficamos imersos a pensar em soluções, em estratégias, em formas de fazer acontecer uma ideia. Muito mais do que aquilo que fazemos, fazer investigação é também aquilo que somos. Fazer investigação permite isto mesmo: conhecermo-nos melhor, conhecer os nossos limites e até a nossa capacidade de superação. Coisas que aprendi sobre mim: gosto da diferença, quero marcar a diferença; demoro a tomar decisões, penso demais; tremo com medo de falhar, apesar de ter planos ambiciosos.
Há um ano, numa conferência sobre estas coisas, ouvi uma americana (já não me lembro do nome) dizer que há uma palavra-chave na investigação: confiança. À medida que o tempo passa vejo o quanto isto faz sentido e como, ao mesmo tempo, é difícil ir mantendo esta confiança em nós. É muito fácil a pressão e o cansaço pôr em causa a nossa confiança. É muito fácil quebrarmos com um artigo rejeitado. É muito fácil deixarmos que esta ideia nos venha à cabeça “oh pah, por que é que me meti nisto!”. É muito fácil alguém fazer-nos sentir que o que fazemos não serve para nada. O processo não é fácil mas torna-nos melhores.
Fui aprendendo que para fazer investigação é preciso P.O. – Paciência e Optimismo. É isto que não nos deixa desistir. Penso sempre que, mais cedo ou mais tarde, vou ter um artigo em revista. Penso sempre que, mais cedo ou mais tarde, vamos ter um projecto aprovado. Penso sempre que, mais cedo ou mais tarde, é preciso fazer mais e muito e melhor. Eu penso muito e tenho muito P.O.! O que me conquista ao fazer investigação é aquela sensação de estar sempre a aprender. Ao mesmo tempo vou sentindo que há muito mais para aprender. “Só sei que nada sei”. Depois temos espaço para ter ideias, para discutirmos e construirmos com os outros. Uns ficam presentes, outros ausentes. Não precisa de ser um caminho isolado e eu tenho o privilégio de ter a melhor companhia do mundo.
E da próxima vez que me perguntarem “Mas afinal o que é que fazes?” vou responder com um estoicismo previsível: “Penso”.
2 comentários:
Pensas e muuuito!!
É bom fazer investigação,pelo conhecimento e pela vontade de aprender mais e mais (e pensar que o conhecimento é tão vasto que cada vez parece que sabemos menos). Mas torna-se complicado quando te acontece quando estás a socializar, entre copos e gargalhadas e dás por ti a pensar na investigação. Não sai da cabeça mesmo! E é nesses momentos que é preciso o tal P.O.
Força Dianinha, tu investiga-me tudo sinhora! Estou contigo ;)
Sempre fiz investigação e, apesar de já ter feito outras miles de coisas em paralelo, como dar formação, sei que isso de estar sempre "na cabeça" pode acontecer em qualquer profissão. Acho que é o sintoma de quem se envolve no que faz! Mas na investigação sim, pensa-se mesmo muito ... mas se penso é porque existo :)
Obrigada pela força sinhora! :)
Muito contente que tenhas aparecido por aqui ;)
Beijoca *
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